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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Nascimento da primeira ninhada

No canto da casa da árvore, professor João fez uma casinha para abrigar Lampião e a Maria Bonita. Essa morada ficou tão pequena, mas tão pequena, que faz de conta que nossa Casinha de Bambuê virou o castelo daquele outro João, o da estória, que plantou o pé de feijão. E nós, viramos uns gigantes barulhentos e curiosos, bem querendo conquistar a confiança dos novos vizinhos.
Maria Bonita é a nossa galinhazinha galizê. Gostou muito do ninho e foi logo se ajeitando. cantarolou, ciscou de lado, juntou gravetos e pronto, agora sim, aninhou-se sossegada.
Também, com tantos ajudantes!
Uma porção de olhinhos curiosos, fazendo silêncio, não balançando a ponte, cobrindo de mimo aquele casalzinho apaixonado! Trouxemos palha, grama seca e tudo o mais que servisse pra aquecer o ninho. Foi aí que o professor João trouxe e nos apresentou o indez. Na palma da mão ele mostrou pra gente, lisinho e redondo, um ovo. Explicou que, indez, é o primeiro ovo, aquele que inaugura a ninhada. E não é que deu certo! Maria Bonita destramelou a botar. Uma porção de ovos miúdos, branquinhos, delicadas caixinhas de guardar vida. Todos os dias a cantoria era certa: bote-bote-bote botei ovo! botei ovo! Gritava a galinha galizé que é bem pequena, mas faz um barulhão danado quando bota. Porque ela quer que toda a gente fique sabendo do seu ovo.

e bota 1, e bota 2, e bota 3, 
e bota 4, e bota 5, e bota 6,
e bota 7, e bota 8,e bota 9, 
e bota 10!

Uma dezena de dias de muita cantoria! Uma dezena de caixas redondinhas, sem chave, nem campainha.

- Mas, professor, como os pintinhos vão sair daí?

- Como vão respirar, se está tudo fechado?

- E se a gente fizer uma janelinha pra eles espiarem o mundo?

Até que passados uns dias, a cantoria e o alarido cessaram. Não se via mais Maria Bonita passeando pelo terreiro. Porque ela só queria ficar quietinha no ninho, agasalhando os ovos, vigiando as horas. Com toda a paciência do mundo! Demorou 21 dias para que o professor Eduardo anunciasse a chegada dos pintinhos. Eles bicavam a casca dura do ovo, punham o bico de fora e se mexiam até quebrar a caixinha e ganhar o mundo.

"Afagar a terra, conhecer os desejos da terra..."

    

      Hoje saímos da sala pra sentir a cor do vento, ouvir o cheiro do sol, sentir o gosto do ar, a textura do céu. E lá estava o professor João Batista, estudioso das pequenas e grandes coisas do chão. Ele estava cuidando da terra, para melhor sustento das plantas.
     


___ Mas a terra já não vem pronta? Alguém teve a ideia de perguntar. 

E o professor explicou:

 "Ensinar exige convicção de que mudanças são possíveis"       P. Freire
  
__ Se não descompactarmos a terra, ela não consegue abraçar a raiz.  Olhem devagar, sintam a textura da terra, dura e seca, apesar de tanta chuva que tem caído. Sabem por quê? 


     A gente ainda não sabia.




__ Porque o grilo, a cigarra, a minhoca não moram mais aqui. Nenhum bichinho escava cavernas ou come restos de folhas para fabricar o húmus que fortalece a planta e sustenta a vida. Daí, a terra fica assim, só servindo pra gente pisar em cima.  Desse jeito, quando cai a chuva, em vez de trazer bonança,  vem arrastando pau, pedra, lixo. ... Assoreia os rios, derruba pontes, abre crateras. E no lugar de trazer vida, traz enchente, alaga ruas, destrói casas e provoca destruição. A natureza é sábia, não fosse a ação humana, devastando tudo, o ir e vir das flores e bichos aconteceria naturalmente. Agora, antes de plantar, precisamos dar uma mãozinha à terra.


Nossos olhos estavam grandes assim, compreendendo o tamanho do mundo. Então, antes de transplantar as primeiras mudas, que há alguns dias semeamos, resolvemos fazer uma dança em homenagem à terra. Num minuto a ciranda se desfez e se refez, e já éramos então uns curumins tapuios, de mãos dadas, dançando o “Uarirê”, saudando terra e sol.
  
Depois pedimos licença pra mãe terra, arrancamos parte da raiz da mandioca e seguimos em direção à cozinha para transformá-la em alimento e compartilhar o gosto do que foi ensinado e aprendido.
( relato de atividade - professora Elizete e alunos do 1º e 2º ano)

          
                                                          

Salvando a jabuticabeira

Patrulha da Jabuticaba:
A mudança da jabuticabeira para a Casa Verde


"As plantas me ensinavam de chão.
Fui aprendendo com o corpo.
Hoje sofro de gorjeios nos lugares puídos de mim.
Sofro de árvores."

Manoel de Barros (Compêndio para uso de pássaros)



  ...Percebendo a nossa vontade de mexer  a terra, o professor João Batista parou os  Patrulheiros da Jabuticaba e propôs: 
Vamos trabalhar com a terra? Sentamos em volta do buraco doidos para começar a futricação. Primeiro ele  explicou porque separou  em dois grandes montes a terra que tirou  do buraco. A terra que estava na parte de cima do solo ficou de um lado e a que estava mais profunda do outro. Adiou ainda mais a alegria porque antes de por a mão na massa, quer dizer, na terra  ele ensinou-nos a demorar o olhar por sobre as coisas a nossa volta. O prof. João Batista pediu que fechássemos os olhos para ver melhor. Juntos elencamos tudo o que víamos,  sem ver. Aprendemos então que só é possível demorar o olhar se fecharmos os olhos. Assim, sem ver, enxergamos, ouvimos, sentimos  o inaudível. Ai sim,  aprenderiamos as lições da terra, e de tudo que nela habita.
  
 Segundo o professor João Batista, o buraco fôra escavado na forma arredondada para assimilar melhor as energias da terra. Desta maneira o campo energético da árvore não se interromperia, favorecendo a manutenção da vida da mais  nova moradora da Casa Verde.


  O monturo de terra que estava mais próximo da superfície tinha uma coloração  mais escura por causa dos nutrientes, processados por um batalhão de seres pequeninos, quase imperceptíveis, trabalhando incansavelmente  transformando matéria orgânica em humos,  
essenciais  a manutenção da vida no planeta.  - Explicou o professo João. 


 Tudo isso era para  cobrir as raízes de nossa futura moradora apenas com a terra mais escura, completamente pronta para fornecer todos os nutrientes de que ela precisaria. E foi graveto, fragmentos de grama, pau, folhas secas, pedaços de raiz, pra um lado e terra pro outro. Selecionamos da terra fértil  todas as matérias  ainda não  processadas pelo exército dos pequeninos soldados, recrutados na infantaria da terra. Estes fragmentos iriam atraí-los e  por certo atacariam também as raízes ainda convalescentes da nossa jabuticabeira. Ao mudar uma árvore adulta de um lugar para outro, muitas raízes se rompem e morrem. Isso atrai os trabalhadores da terra, ávidos por triturar as raízes em decomposição. Todo cuidado era pouco para mante-los longe. Qualquer sinais de morte,  atrairia aquele  exercito Minúsculo em tamanho, mas forte, renitente,  unidos e organizados. Estão sempre prontos  para o combate, silenciosos, espertos e prontos para o ataque o que poderia fazer nossa futura moradora transformar-se em humos antes do tempo. Portanto  todo cuidado era pouco para mante-lo afastados das raízes frágeis que estavam por vir. 



    


 Ali mexendo a terra, encontramos uma infinidade desses bichinhos. Dentre eles, uma família enorme de cupins eficientes trituradores  transformando matéria orgânica em humos.



       A professora Elizete lembrou que  a palavra 'homem' deriva da palavra 'humos' como a  origem dos elementos e da vida da terra. A palavra ”humilde” também deriva de humos  por causa desse gesto: reduzir-se em favor do outro. Reduzir-se em partículas extremamente minúsculas para depois unir-se novamente à terra em favor de um objetivo nobre e de extrema importância para a vida das plantas, dos bichos e de tudo que garante a manutenção do equilíbrio do planeta.


Relatório elaborado pelos alunos e professores do grupo de 7 a 8 anos. 


“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. 
Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”

Cora Coralina