Patrulha da Jabuticaba:
A mudança da jabuticabeira para a Casa Verde
"As plantas me ensinavam de chão.
Fui aprendendo com o corpo.
Hoje sofro de gorjeios nos lugares puídos de mim.
Sofro de árvores."
Manoel de Barros (Compêndio para uso de pássaros)
Percebendo a nossa vontade de chafurdar a terra, o professor João Batista parou a Patrulha e convidou:
Vamos trabalhar com a terra?
A alegria foi geral. Sentamos em volta daquele buracão, prontos para qualquer tarefa. Foi preciso conter o desejo das mãos, ávidas por terra, adiar a alegria da futricação, pois antes de por a mão na massa, quer dizer, na terra, João ensinou-nos a demorar o olhar por sobre as coisas a nossa volta. Foi ai que fechamos os olhos para ver melhor. Elencamos tudo o que víamos, sem ver: Bananeira, alamandra, sabiá, buriti, dipladênia, minhoca, coró de pau, lagarto, “ Casal Passarão” que é um casal de pássaros gigantes que moram no buriti, Cigarra...
- E canto de cigarra professor, vale também? – Perguntou o Rafael.
- E canto de cigarra professor, vale também? – Perguntou o Rafael.
Ai pronto, a lista não acabava mais. Elencamos o que não víamos, mas ouvíamos, sentíamos: vento, Cheiro de terra, mosquito, dor de barrigal... choro do João Gabriel, briga do Lui, Manuel de Barros poetando: Eu queria que minhas palavras, de joelho no chão pudessem ouvir as origens da terra”, que a Alexandra escreveu no vaso bem ali, Saíram coisas do arco da velha...
João explicou-nos que só é possível apreender o silencio e o som, a vida e a morte, o cheio e o vazio, ou mesmo as lições de tudo que é bichos, planta, gente, etc. se fecharmos os olhos. Assim, sem ver, enxergamos, ouvimos, sentimos os carecimentos da terra e de tudo que nela habita.
João explicou-nos que só é possível apreender o silencio e o som, a vida e a morte, o cheio e o vazio, ou mesmo as lições de tudo que é bichos, planta, gente, etc. se fecharmos os olhos. Assim, sem ver, enxergamos, ouvimos, sentimos os carecimentos da terra e de tudo que nela habita.
Andamos mesmo precisando exercitar a demora do olhar, o silencio mais profundo. João explicou ainda que separou a terra que tirou para fazer o buraco assim: a que estava na parte de cima do solo ficou de um lado e a que estava mais profunda, do outro. O monturo de terra que estava mais superficial tinha uma coloração escura por causa dos nutrientes, processados por um batalhão de seres pequeninos, quase imperceptíveis, trabalhadores incansáveis a transformar matéria orgânica em humos. As raízes de nossa futura moradora seriam cobertas apenas com a terra preta, boa para fornecer-lhe todos os nutrientes necessários a sua recuperação.
Havia no monturo de terra preta muitos insetos.
Dentre eles, uma família enorme de cupins. Havia também uma infinidade de matéria ainda não processada o que por certo atrairia aquele exército de soldadinhos, recrutados na infantaria da terra. Minúsculos em estatura, mas fortes, renitentes e prontos para o combate organizado e silencioso. Todo cuidado era pouco para mantê-los afastados das raízes frágeis que estavam por vir. Nossa tarefa agora era afastar qualquer sinal de morte que pudesse atraí-los. O que transformaria nossa jabuticabeira em humos antes do tempo.
E foi graveto, fragmentos de grama, pau, folhas secas, pedaços de raiz, pra um lado e terra preta pro outro.
Enquanto garimpávamos os restos de ramo, graveto,... a professora Elizete lembrou que a palavra 'homem' deriva da palavra 'humos' que quer dizer origem de todas as coisas inclusive da vida.
– Observem a matéria que separamos da terra.
Cada uma tinha uma forma de vida, agora estão todas aqui no mesmo monturo, transformando-se em humos para ganhar novas formas de vida. A palavra ”humilde” também deriva de humos por causa desse processo. Decompor-se, e recompor-se em favor de uma nova vida. Reduzir-se em partículas extremamente minúsculas para depois reunir-se à terra, somando força em favor de um objetivo nobre e de extrema importância, no nosso caso, garantir a vida da nossa jabuticabeira.
Nosso trabalho na escola é assim, um escarafunchar constante. Plantamos o jardim, conversamos sobre as nossas tarefas, cuidamos dos animais, fabricamos a nossa comida, colhemos os frutos, trabalhando a terra feito bicho, numa escavação constante. Tatuzinhos cavando a própria casa, a própria morte, a própria sorte. . .
E foi tatu pra todo lado Tatuzando, que é o mesmo que tatu tá. Vem tatuzar também! Vamos precisar de muitos tatuzinhos e tatuzão, daqueles bem fortes pra ajudar a transportar e plantar uma jabuticabeira enorme.
Mas esta história fica para uma outra vez.
Relatório elaborado pelos alunos e professores do grupo de 7 a 8 anos.
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”
Cora Coralina
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